Avião do Governo do Paraná vira transporte particular para Ratinho Jr. ir ao Pânico da Jovem Pan?

É a clássica imagem que irrita o eleitor: o avião do governo, recurso pago com o suor de quem trabalha, sendo usado para um deslocamento que, aos olhos de muitos, parece misturar a urgência do Estado com a conveniência da promoção pessoal.
A recente viagem do governador do Paraná a São Paulo, com o avião oficial, traz consigo uma justificativa robusta, mas que levanta uma dúvida incômoda. O protocolo de voo lista, lado a lado, encontros relevantes para a economia, como as reuniões com executivos do BTG Pactual e da Genial Investimentos: compromissos de alto nível, inegavelmente de interesse público.
Porém, bem ali, no meio da agenda séria, está a: “PARTICIPAÇÃO NO PROGRAMA DE RÁDIO PÂNICO”, da Jovem Pan.

É essa linha, ou melhor, a confusão de linhas, que faz o cidadão coçar a cabeça e perguntar: o avião do contribuinte voou por qual motivo principal?
O Peso do Custo Operacional Versus o Assento Comercial
Para transformar essa dúvida em um questionamento concreto, é essencial colocar os números na mesa.
Enquanto a passagem aérea comercial mais cara e flexível (Executiva ou Premium Economy) para o trecho de ida e volta Curitiba-São Paulo custaria, no máximo, cerca de R$ 2.000,00 por pessoa, a história muda drasticamente ao ligar os motores da aeronave oficial.
Uma análise conservadora dos custos operacionais de um turbo-hélice executivo como o King Air 350I, aeronave frequentemente utilizada por governos, aponta que apenas os custos variáveis (combustível, manutenção por hora de voo e taxas aeroportuárias) para a mesma viagem de ida e volta ficam na faixa de R$ 10.500,00 a R$ 13.000,00.
Isso significa que a opção pelo avião do governo custou, no mínimo, cinco vezes mais do que um voo comercial confortável e flexível para cumprir a mesma rota.
Conveniência Pessoal vs. Economicidade Pública
O cerne do debate não é a segurança ou a velocidade, mas a proporcionalidade no uso de um bem público tão caro e simbólico.
Quando o protocolo junta em uma só viagem um encontro com investidores que podem trazer milhões para o Paraná e uma entrevista em um programa de entretenimento e mídia política nacional, a pauta da eficiência dá lugar à da moralidade.
Podemos imaginar que os compromissos com o BTG e a Genial exigiam a agilidade do avião. Mas e a entrevista no Pânico?
O avião oficial não é um táxi executivo pago para servir à imagem de quem o usa. Ele é uma ferramenta de último recurso, destinada a otimizar o tempo e a segurança quando o interesse público de urgência assim exige.
A Transparência que Incomoda
O paradoxo é que o governo agiu com transparência ao divulgar a agenda completa, incluindo o Pânico. Mas essa transparência, nesse caso, revela uma escolha de prioridades que parece, no mínimo, displicente com o dinheiro público. O contribuinte não consegue evitar a sensação de que a participação no programa de rádio “pegou carona” em um compromisso sério.
O Pânico pode até gerar visibilidade, mas será que vale o risco de gerar também a desconfiança e o questionamento sobre a verdadeira bússola moral que guia o uso da máquina pública?
Fica a pergunta: Em um momento em que a contenção de gastos é essencial, e sabendo que a opção pelo voo oficial custou mais de dez mil reais a mais que a alternativa comercial mais confortável, a alta cúpula do governo não deveria ser a primeira a dar o exemplo, garantindo que o avião do povo voe apenas quando o dever inadiável de governar for a única e incontestável razão?