Veja : Governador Ratinho Junior dá piti e encerra coletiva em Maringá

Veja : Governador Ratinho Junior dá piti e encerra coletiva em Maringá

O governador Ratinho Junior visitou Maringá hoje, 02 de outubro de 2025, para a entrega de apartamentos, transformando o evento em um ato de grande destaque de sua gestão. Contudo, ao analisar os números do investimento, emerge uma estratégia evidente de capitalização política sobre recursos que são, em sua grande maioria, federais e provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS. Em um momento de intensas especulações sobre sua pré-candidatura à Presidência da República, a forma como a parceria é apresentada exige um olhar crítico.

O empreendimento movimentou um total de R$ 84,5 milhões. A análise da origem dos fundos mostra: R$ 79 milhões vieram do Governo Federal e FGTS, e apenas R$ 5,48 milhões foram aportados pelo Governo do Paraná e Cohapar.

O Marketing Inverte o Jogo dos Milhões

A aritmética da “parceria” é incontestável: o recurso federal e do FGTS é o principal motor, respondendo por 93,5% (R$ 79 milhões) do investimento total. A contribuição do Estado, embora essencial para o subsídio da entrada, soma apenas 6,5% (R$ 5,48 milhões). Fica claro que o investimento do Governo Federal/FGTS é mais de 14 vezes superior ao aporte do Governo do Paraná.

No entanto, a narrativa oficial insiste em colocar os R$ 5,48 milhões estaduais em evidência, enquanto os R$ 79 milhões são convenientemente diluídos ou minimizados nas falas. Este é o ponto central da manobra política: usar o palco da “entrega de chaves” para transformar o dinheiro público alheio e os recursos do FGTS em capital eleitoral próprio. É importante lembrar que a maior parte do investimento é financiada pelo FGTS, um fundo que será ressarcido pelas próprias famílias beneficiadas, por meio das prestações de seus financiamentos. O governador, portanto, celebra a realização do sonho da casa própria financiado com o dinheiro do próprio trabalhador e do governo central, enquanto sua participação é uma pequena, mas bem-posta, fatia de subsídio.

A Recusa à Transparência e a Retórica do IPVA

A fragilidade dessa construção narrativa ficou exposta quando o governador foi confrontado pelo jornalista Gilmar Ferreira, do O Diário de Maringá. Em um gesto de reconhecimento, o jornalista parabenizou o governador Ratinho Junior pela redução de 45% do IPVA, uma medida popular e bem-vinda para o cidadão, mas cobrou a falta de providências para compensar as perdas dos municípios, que ficam com as mãos atadas para investimentos. A resposta do governador, firme, mas retórica, levou-o a encerrar abruptamente a coletiva, dando o que se chama de “piti”.

A alegação de que a economia no IPVA seria revertida em consumo e, consequentemente, em arrecadação de ICMS, é falaciosa. Se o cidadão economizar, por exemplo, R$ 800 e gastá-los em itens essenciais como carne, arroz, feijão, açúcar e sal, não há retorno de ICMS ao Estado, pois esses produtos são isentos. No cenário de compra de bens com imposto mais alto, como sapatos femininos (com alíquota de 19,5%), o valor que retorna ao município é apenas cerca de 23% do ICMS arrecadado. Isso significa que, a cada R$ 800 gastos nesses sapatos, R$ 156,00 (19,5%) são o ICMS, mas apenas R$ 35,88 (23% de R$ 156,00) retornam para a prefeitura. Ou seja, a retórica da compensação via consumo não se sustenta financeiramente para os cofres municipais.

A atitude do governador de se esquivar do debate sobre a falta de contrapartida para os municípios, após a queda brusca na arrecadação do IPVA, demonstra uma falha de planejamento e responsabilidade federativa. Embora a redução do imposto seja popular, a omissão em cobrir a perda de receitas obriga os prefeitos a cortar investimentos ou, em último caso, a adequar o IPTU para equilibrar as contas, transferindo o ônus da perda de receita estadual para o bolso do cidadão via imposto municipal.

Conclusão: O Custo Político da Verdade

Embora a entrega de moradias seja um evento socialmente positivo, a tática de obscurecer a origem dos recursos para fins de promoção política é condenável. O projeto Ratinho Junior à Presidência exige uma base sólida de realizações, mas essa base não pode ser construída pela apropriação indevida do mérito federal e do esforço de financiamento das famílias, nem pelo desamparo fiscal dos municípios. A população tem o direito de saber que a grande parte do investimento vem do Governo Federal e do FGTS, e que o Estado contribuiu com uma porção significativamente menor. A atitude do governador de se esquivar da imprensa ao ser questionado sobre esses fatos apenas confirma o receio de que a ambição política esteja se sobrepondo ao dever de transparência.

Veja : Governador Ratinho Junior dá piti e encerra coletiva em Maringá

Redação O Diário de Maringá

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