Burger King se retira da Argentina, mas aposta no Brasil mostra como gestão local faz a diferença

A venda das lojas do Burger King na Argentina pela mexicana Alsea não deve ser lida como um “fracasso da marca”, mas sim como um ajuste estratégico de portfólio. O recado é claro: em mercados emergentes não basta ostentar uma bandeira global. É preciso adaptação, competitividade e capacidade de leitura do ambiente econômico.
Na Argentina, o Burger King enfrentou um cenário hostil em vários sentidos. Primeiro, a macroeconomia: inflação crônica, poder de compra corroído e incerteza política constante. Segundo, a concorrência: a rede local Mostaza, que conseguiu ocupar espaço com preços competitivos e maior identificação cultural, pressionou fortemente a operação estrangeira. O resultado foi queda de vendas, margens comprimidas e necessidade de investimentos pesados para tentar reverter a curva. A Alsea, pragmática, decidiu cortar perdas e realocar capital para negócios mais promissores.
Enquanto isso, o Brasil conta uma história bem diferente. Aqui a antiga BK Brasil, agora Zamp, provou que boa gestão local faz toda a diferença. A empresa apostou em digitalização, delivery, aplicativos de fidelidade e expansão física em grandes centros, colhendo retornos consistentes. Mais que isso, diversificou seu portfólio trazendo a Starbucks para o país e explorando um público disposto a pagar por experiência e conveniência. Ou seja, mostrou visão de longo prazo mesmo em um ambiente econômico que também enfrenta turbulências.
Esse contraste ensina algo fundamental: marcas globais só prosperam quando combinam força de imagem com execução local de qualidade. O Burger King não está abandonando a América do Sul. Está, na prática, limpando o terreno. Sai de um mercado saturado e frágil, a Argentina, e fortalece sua presença onde há escala, consumo e operadores competentes, o Brasil.
É uma lição de estratégia corporativa, mas também um lembrete sobre economia regional. Quem não entende as particularidades de cada país, sua cultura de consumo, seus ciclos políticos e suas restrições estruturais, acaba pagando caro por decisões uniformes.
No fim das contas, a Argentina perde mais do que o Burger King, e o Brasil, ao menos por ora, mostra-se como vitrine de que gestão local pode transformar uma marca global em motor de crescimento.