Pré-G20 na África do Sul discute mudanças na economia global

Pré-G20 na África do Sul discute mudanças na economia global

Discutir caminhos de desenvolvimento propostos por países africanos e do Sul Global e debater um novo referencial em políticas econômicas e de governança, que coloque equidade e sustentabilidade no centro do debate, foram alguns dos resultados da Conferência Pré-G20 realizada em Joanesburgo pelo think thank global IDEAs Network. O encontro reuniu formuladores de políticas, representantes da sociedade civil, jornalistas, movimentos sociais, jovens acadêmicos e economistas e intelectuais.

O G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana, tem a África do Sul na presidência em 2025, que sediará em novembro a cúpula dos chefes de Estado para discutir multilateralismo econômico e governança global. A África do Sul é o quarto país do Sul Global a assumir a presidência rotativa do grupo, que em 2026 passará para os Estados Unidos, ocasião em que poderão ser redefinidas as prioridades e dinâmicas de poder.

A conferência pré-G20 de Joanesburgo abordou a proposta de um novo referencial para a política econômica mundial. A presidência sul-africana ocorre em um contexto de debate sobre a representatividade das nações em desenvolvimento nas decisões econômicas globais. Durante a mesa de abertura, Rob Davies, economista e ex-ministro do Comércio e Indústria da África do Sul, destacou: “Não podemos falar de governança global enquanto vozes da África e de outras regiões em desenvolvimento forem marginalizadas. Nossa participação precisa ser significativa, não simbólica”.

O evento discutiu a necessidade de industrialização por meio da utilização de minerais e materiais críticos, mobilização de recursos domésticos para o desenvolvimento e cooperação financeira Sul-Sul, incluindo sistemas de pagamento que apoiem o comércio transfronteiriço. Uma das pautas mais urgentes foi a dívida externa africana. Segundo dados de 2023 do site ONE Campaign (Data.ONE), os países africanos têm aproximadamente US$ 685,47 bilhões em dívida externa (equivalente a 24,5% do PIB combinado do continente). Estimativas indicam que, em 2025, os serviços dessa dívida — incluídos juros e amortizações — chegarão a cerca de US$ 88,71 bilhões, segundo projeção da ONE Campaign. Sobre o tema, Rob Davies ressaltou a necessidade de mudanças. “Precisamos repensar as regras do jogo se quisermos uma transformação real. O G20 precisa reconhecer que sustentabilidade da dívida, financiamento climático e comércio justo são centrais para o desenvolvimento do Sul Global”, defendeu.

O economista político Lebohang Liepollo Pheko, membro da Comissão Nacional de Planejamento da África do Sul, acrescentou que os modelos econômicos antigos simplesmente não funcionam mais. “Precisamos de um novo referencial que realmente coloque as pessoas no centro das decisões e não apenas os números. Se continuarmos aplicando políticas antigas, perpetuamos a desigualdade e a exclusão”, afirmou. O economista senegalês Ndongo Samba Sylla destacou a herança colonial na mobilização de recursos africanos: “O referencial dominante da mobilização de recursos domésticos na África tem origens coloniais. As colônias eram administradas sem subsídios da metrópole — todo financiamento vinha de impostos e trabalho forçado, geralmente vinculado à renda de exportação”. Para James K. Galbraith, olhar para a trajetória própria de cada sociedade é essencial: “Não existe um modelo único de desenvolvimento. Tentar impor um implica necessariamente em uma hierarquia política e social unipolar”.

Participaram ainda do evento representantes da União Africana e líderes sul-africanos. Para o economista político Lebohang Liepollo Pheko, membro da Comissão Nacional de Planejamento da África do Sul, os modelos econômicos antigos simplesmente não funcionam mais: “Precisamos de um novo paradigma que realmente coloque as pessoas no centro das decisões e não apenas os números. Se continuarmos aplicando políticas antigas, perpetuamos a desigualdade e a exclusão”.

CP Chandrasekhar, chefe global de Pesquisa e Política da IDEAs, reforçou a necessidade de repensar a mobilização de recursos: “Historicamente, a mobilização de recursos foi reduzida à questão de ‘onde está o dinheiro?’, em vez de focar na necessidade real de mudança estrutural, central para o desenvolvimento”. Por fim, o economista malaio Jomo Kwame Sundaram abordou a ideia de solidariedade estratégica para a industrialização no Sul Global. “Quase não tínhamos indústria para começar, então não há muito a desindustrializar. Mas, ao buscar um ‘novo paradigma’, precisamos pensar com cuidado sobre a industrialização no Sul Global. Nossa força está nos números, e sem solidariedade real não avançaremos”, concluiu.

DINO