Entre a cruz e o fuzil: o que Jesus diria sobre as execuções no Rio de Janeiro

Entre a cruz e o fuzil: o que Jesus diria sobre as execuções no Rio de Janeiro

Diria a mesma coisa, ou, se fosse hoje, diria como alguns que dizem seguir Jesus: que bandido bom é bandido morto?

Nos últimos dias, o país acompanhou o resultado de mais uma operação policial no Rio de Janeiro. Mais de cem pessoas foram mortas, classificadas sumariamente como criminosos. Nenhum julgamento, nenhuma prisão, nenhum interrogatório. Foram executadas em nome de uma suposta justiça imediata, que confunde vingança com segurança pública.

Ninguém aqui está defendendo criminosos. O crime deve ser combatido, punido e responsabilizado, mas dentro da lei, com respeito à vida e à Constituição. Há uma grande diferença entre prender e executar, entre fazer justiça e cometer barbárie. A execução em massa não resolve a criminalidade, apenas aumenta a crueldade dos próximos crimes.

Se os mortos estivessem presos, talvez pudessem revelar quem financia o crime organizado, quem lucra com o tráfico e quem, dos condomínios de luxo à Faria Lima, patrocina o caos social. Mas mortos não falam. E o crime continua.

É nesse ponto que a reflexão cristã se torna inevitável. Jesus também foi crucificado entre dois criminosos. Um deles, diante da morte, reconheceu sua culpa e disse: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.” E Jesus respondeu: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43).

Jesus não perguntou a qual igreja aquele homem pertencia, se já havia sido batizado, se guardava o sábado ou se tinha dado o dízimo. Ele viu arrependimento e ofereceu misericórdia.

Hoje, muitos que se declaram cristãos repetem frases como “bandido bom é bandido morto”, esquecendo que Jesus morreu justamente ao lado de um bandido e não o condenou, mas o salvou. Se a lógica dos que defendem a execução sumária prevalecesse no Calvário, aquele homem teria sido apagado da história, sem chance de arrependimento, sem perdão e sem redenção. Mas o Evangelho nos mostra o contrário: ninguém está tão perdido que não possa ser transformado.

O cristianismo não é uma religião de vingança, mas de justiça e restauração. Jesus nunca incentivou a eliminação do pecador, mas a sua conversão. Isso não significa impunidade, significa humanidade. A Bíblia ensina que a justiça de Deus se manifesta não na força do braço, mas na transformação do coração.

Quando o Estado executa em vez de prender, ele não apenas mata corpos, mas mata também a chance de justiça verdadeira. E quando o cristão aplaude a morte, ele se afasta do exemplo de Cristo, que disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mateus 5:7).

De acordo com o levantamento da Polícia Civil, dos 109 suspeitos identificados, a maioria possui histórico criminal grave ou ligação direta com o tráfico de drogas. O perfil dos envolvidos revela o seguinte panorama:

  • 78 têm fichas criminais extensas, com acusações que incluem homicídio e tráfico de drogas;
  • 43 eram foragidos da Justiça;
  • 54 vieram de outros estados, reforçando o caráter interestadual das facções envolvidas — sendo 15 do Pará, 9 do Amazonas, 11 da Bahia, 4 do Ceará, 7 de Goiás, 4 do Espírito Santo, 1 do Mato Grosso, 1 de São Paulo e 2 da Paraíba;
  • 26 apresentavam antecedentes criminais diversos;
  • 3 tinham anotações por atos infracionais cometidos ainda na adolescência;
  • 7 não possuíam histórico criminal formal, mas segundo a polícia, suas atividades nas redes sociais indicavam participação no tráfico;
  • 20 dos identificados não têm, até o momento, qualquer envolvimento comprovado com o crime, o que representa aproximadamente 18% do total.

O balanço evidencia um quadro complexo, que mistura criminosos com longo histórico de violência e pessoas ainda sob investigação, reforçando a necessidade de apuração criteriosa para garantir o devido processo legal.

Não se trata de defender bandidos, mas de defender princípios, os mesmos que Jesus viveu e pelos quais morreu. Uma política de segurança pública que se baseia em execuções é tão ineficaz quanto anticristã. O que o Brasil precisa não é de mais sangue nas ruas, mas de um sistema que prenda, julgue, puna e, quando possível, recupere.

O verdadeiro cristão sabe: matar não é vencer. É fracassar como sociedade.

Redação O Diário de Maringá

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