Moção por cumprir o dever? Vereador perde o foco
A Câmara Municipal de Maringá tem, entre suas funções mais nobres, a de fiscalizar o Executivo e legislar em benefício direto da população maringaense. Por isso, causa estranheza o requerimento apresentado pelo vereador Professor Pacífico (Novo), que propõe uma Moção de Apoio ao governador Ratinho Junior pelo trabalho realizado em Rio Bonito do Iguaçu, após o devastador tornado que atingiu o município no último dia 7 de novembro.
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É evidente que a tragédia exige ação rápida e solidária do Estado. E é justamente isso que o governador fez: seu dever. Mobilizar Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Copel e demais secretarias em uma situação de calamidade não é motivo de homenagem, é obrigação legal e moral de qualquer gestor público. A eficiência e a sensibilidade diante do sofrimento de famílias inteiras não devem ser vistas como um feito extraordinário, mas como o mínimo esperado de quem ocupa o cargo de chefe do Executivo Estadual.
O problema não está em reconhecer o trabalho, está em transformar o que é dever em espetáculo político. Enquanto o Paraná ainda contabiliza perdas humanas e materiais, e enquanto Maringá enfrenta seus próprios desafios, da saúde à infraestrutura, da segurança ao transporte público, a Câmara deveria focar em resolver os problemas da cidade, não em distribuir aplausos protocolares a quem apenas cumpriu o que já lhe cabia.
Homenagear o governador por fazer aquilo que já deveria fazer trivializa a função legislativa e afasta o foco das reais demandas locais. A Casa de Leis não pode se tornar um palco de gestos simbólicos que rendem manchetes, mas não trazem benefícios concretos à população.
Reconhecimento é bom e justo quando há mérito além do esperado. Mas quando se trata apenas de cumprir o dever, a homenagem soa como bajulação disfarçada de gratidão, e isso, convenhamos, não é o papel do Legislativo municipal.
Talvez seja hora de os vereadores olharem menos para os holofotes de Curitiba e mais para as ruas de Maringá. É nelas que estão os problemas e as pessoas que realmente esperam ações, e não moções.


