Existe uma justiça para o povo e outra para amigos do Palácio Iguaçu?

Existe uma justiça para o povo e outra para amigos do Palácio Iguaçu?

A reação do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro escancarou um traço recorrente na política paranaense: a memória seletiva quando o cálculo eleitoral fala mais alto que a coerência.

Ao lamentar a prisão de Bolsonaro e classificá-la como resultado de “brigas políticas”, Ratinho Junior convenientemente se esquece de que o ex-presidente não está atrás das grades por divergências partidárias, mas por decisão judicial após um processo que o condenou por articular um golpe de Estado para se manter no poder. Reduzir uma condenação desse porte a simples “conflito político” distorce deliberadamente a gravidade dos fatos.

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E mais: ao insistir nessa narrativa, o governador também minimiza o próprio ambiente de radicalização que marcou o bolsonarismo, no qual surgiram até alegações de complôs envolvendo supostos planos para matar o então presidente eleito Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Mesmo essas alegações, que geraram enorme repercussão à época, agora são tratadas implicitamente como parte de uma “briga política”. A pergunta inevitável é: desde quando tramar a morte de um presidente, de um vice-presidente e de um ministro do STF, ainda que tratado como alegação, pode ser reduzido a disputa partidária?

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No Paraná, o contraste entre discurso e prática tem sido cada vez mais evidente. Para adversários políticos, o governo adota a postura de “lei dura”, com rigor absoluto e sem flexibilização. Para aliados, prevalece a condescendência. O caso recente da “saidinha” expôs esse padrão. Se não é aliado, vale a mão pesada; se tem proximidade com o poder, as regras parecem maleáveis. O cidadão observa tudo isso e se pergunta: existe uma justiça para o povo e outra para amigos do Palácio Iguaçu?

Ratinho Junior construiu sua imagem pública em torno de eficiência, modernidade e diálogo. Mas, quando precisa escolher entre coerência institucional e conveniência eleitoral, a conveniência vence sem esforço.

O Paraná merece liderança que respeite a democracia, que valorize as instituições e que não tente reescrever a realidade para agradar parcelas específicas do eleitorado. Minimizar a tentativa de ruptura democrática ou transformar alegações gravíssimas em mero “conflito político” não é postura de estadista. É cálculo eleitoral.

E, no fim, sobra a pergunta que o governador preferiria evitar: a lei é para todos ou só para quem não faz parte do círculo de aliados do Governo do Estado?

Redação O Diário de Maringá

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