Evangélica ou idolatra? Vereadora causa polêmica ao ostentar imagem de líder político
A atuação pública da vereadora Giselli Bianchini vem revelando um conjunto de contradições que desafiam a coerência política, ética e institucional que se espera de um representante eleito. Entre o discurso e a prática, a distância tem sido cada vez maior, e esse abismo precisa ser debatido com seriedade.
A vereadora se apresenta como cristã e evangélica, mas defende pautas como a pena de morte, incompatíveis com os valores centrais do Evangelho, que valorizam a vida e destacam a compaixão. Ao mesmo tempo, manifesta admiração por imagens de ídolos políticos, chegando a exibir retratos do ex-presidente Jair Bolsonaro em reuniões. A própria Bíblia, referência que ela utiliza com frequência, afirma em Êxodo 20:4: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”
Em seu discurso sobre liberdade, a vereadora sustenta posições que contradizem esse ideal. Recentemente, voltou a exaltar o golpe militar de 1964 na tribuna da Câmara Municipal de Maringá, repetindo o mesmo gesto que havia feito em frente ao Tiro de Guerra da cidade anos atrás, quando posou e discursou em defesa do regime. Naquele episódio não houve consequência alguma. E, mais uma vez, a Câmara parece ter ignorado que defender golpe e ditadura em um parlamento democrático levanta questionamentos sobre valores institucionais e até sobre possível quebra de decoro. A pergunta que permanece é simples: o que significa, dentro de uma Casa Legislativa, defender um golpe de Estado?
Também chama atenção sua postura durante a votação da reforma da Previdência de Maringá. A vereadora justificou seu voto afirmando que só apoiou a proposta porque a reforma nacional havia sido criada pelo ex-presidente Bolsonaro. O que ela omitiu, porém, é que foram justamente os vereadores de Maringá que mitigaram os danos que a reforma federal poderia causar aos servidores. Sem as adaptações municipais, os prejuízos seriam muito maiores, todos herdados das regras impostas pelo governo Bolsonaro.
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Outro ponto de conflito encontra-se em sua atuação legislativa. Giselli Bianchini reforça com frequência que é advogada, mas apresenta projetos que contrariam princípios constitucionais fundamentais. Em vez de fortalecer direitos e garantias, suas propostas muitas vezes restringem liberdades, sobretudo dos mais vulneráveis. Exemplos disso são iniciativas que dificultam a permanência de moradores em situação de rua, ignorando que a função do poder público é oferecer proteção, e não punir quem já enfrenta a extrema ausência de dignidade.
Essas contradições não são meros desencontros de opinião. Representam um padrão de incoerência entre discurso religioso e prática política, entre defesa proclamada de liberdade e simpatia por autoritarismos, entre juramento constitucional e iniciativas que violam seus próprios limites institucionais.
Maringá merece representantes comprometidos com a democracia, a verdade e a responsabilidade pública. É papel da sociedade observar, questionar e exigir coerência de quem ocupa cargos eletivos. E é papel da Câmara Municipal garantir que gestos que exaltem golpes, ditadores e violações constitucionais não sejam tratados com normalidade.
Quando um mandato se sustenta em contradições tão profundas, é a democracia local que pede atenção. E silêncio institucional nunca pode ser a resposta.


