Uso do Parque de Exposições por Adriano José: cortesia, acordo ou pagamento?
Quando se fala em evento público, ainda que realizado por agentes políticos em espaços privados, há algo que deveria ser inegociável: transparência. E é justamente a ausência dela que transforma o aniversário do deputado Adriano José, realizado na Sociedade Rural de Maringá, em motivo de estranhamento e debate.
O primeiro ponto é a capacidade do local. Segundo o Corpo de Bombeiros, o espaço é liberado para 680 pessoas. Portanto, a narrativa amplamente divulgada de que o evento teria reunido “quase duas mil pessoas” não se sustenta na realidade física nem na autorização oficial. Ou o número foi inflado para gerar impacto político, ou alguma irregularidade ocorreu. Em ambos os casos, a sociedade tem o direito de saber a verdade.
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Mas o estranhamento não termina aí.
Menos de um mês antes da festa, o governador Ratinho Junior liberou R$ 25 milhões em recursos públicos para a Sociedade Rural, uma entidade privada. Para se ter dimensão do valor, ele equivale a mais de 16 meses do repasse destinado ao Hospital da Criança de Maringá, uma instituição essencial, pública e que atende milhares de famílias.
E quem estava no evento comemorativo, posando para fotos e discursos? O próprio governador. O mesmo governador que agora usa aparições públicas para construir o discurso de uma possível pré-campanha à presidência. Ao lado dele estava o deputado Adriano José, que tenta se projetar politicamente para a disputa de deputado estadual.
É nesse cenário que surge uma pergunta simples, e perguntar não ofende: o deputado pagou pela locação do espaço? Ou a Sociedade Rural teria cedido gratuitamente o local como uma “gentileza” depois da liberação dos R$ 25 milhões?
Se pagou, que apresente a documentação completa. E não adianta mostrar apenas o contrato. O ideal é apresentar também os comprovantes de quitação, que são as únicas garantias reais de que o pagamento foi efetivamente realizado e não apenas formalizado no papel.
Se não pagou, a situação se agrava, porque abre margem para suspeitas de contrapartida, favorecimento ou uso indireto de recursos públicos para eventos políticos.
Também chama atenção o fato de que esta seria, até onde se sabe, a primeira festa do deputado realizada naquele espaço, justamente no mesmo ano em que ocorreu essa generosa transferência de recursos estaduais para a entidade.
A soma dos fatores incomoda: um espaço com limite de 680 pessoas sendo divulgado como palco de uma festa com “quase duas mil”; uma liberação milionária para uma entidade privada às vésperas da eleição; um evento político carregado de simbolismo eleitoral; e o governador e o deputado presentes no centro de tudo.
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Nada disso acusa alguém de crime, mas tudo isso pede explicações claras, diretas e documentadas. A população merece respeito. Quando dinheiro público, interesses privados e movimentações eleitorais se misturam, o silêncio é sempre a pior resposta.


