Empreendedorismo feminino ajuda expandir setores de serviços
Com 10,4 milhões de empreendedoras — recorde histórico —, o Brasil vê a liderança feminina ocupar posição estrutural na economia. Entre 2012 e 2024, o número de mulheres à frente de negócios cresceu 42%, ritmo superior ao dos homens, impulsionado por maior escolarização e novas formas de trabalho. Ainda assim, elas recebem, em média, 24% menos que homens na mesma função, segundo Data Sebrae.
O setor de serviços concentra 56,8% de empresas lideradas por mulheres, seguido pelo comércio (25,1%), aponta o relatório. A expansão acompanha a profissionalização de segmentos como estética avançada, saúde, moda autoral, gestão clínica e bem-estar, que seguem crescendo mesmo em cenário macroeconômico.
Para a psicanalista Camila Camaratta, parte dessa diferença decorre das trajetórias femininas no país. "As mulheres que chegam ao topo geralmente passaram por fases de instabilidade, endividamento ou reinvenção. Quando retornam, aplicam mais método, estudo e constroem uma rede de apoio maior" e completa: "Muitas empreendem para ter liberdade e mobilidade e, assim, cuidar dos familiares e filhos com autonomia".
Nesse cenário, Pamela Massuia, Fabi Pinelli, Patrícia Granha, Beatriz Illipronti, Luciana Geraissate, Gabriela Vizioli e Fabíola Faleiros, líderes de setores técnicos a serviços premium, contam suas histórias.
Cirurgia plástica: Brasil líder e demanda por especialização
O país registrou mais de 2,3 milhões de cirurgias plásticas e mais de 3,3 milhões de procedimentos minimamente invasivos em 2023, segundo a ISAPS. A busca por naturalidade impulsiona profissionais com formação em reconstrução e contorno corporal.
A Dra. Pamela Massuia construiu sua carreira com residência em cirurgia geral e plástica e especialização em contorno corporal e Mommy Makeover e explica que "cada cirurgia exige leitura clínica, preparo e respeito ao limite de cada paciente. A formação longa não é um diferencial, é o mínimo para entregar segurança".
Estética avançada: setor bilionário e com experiência hospitalar
O mercado brasileiro de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos movimentou R$ 156,5 bi em 2023, quando havia 3.483 empresas formais no setor, e deve crescer 7,2% ao ano até 2027.
A fisioterapeuta dermatofuncional Fabi Pinelli aplica na estética a lógica de segurança, protocolo e rastreabilidade da rotina hospitalar, na qual atua há 27 anos, além da clínica própria. "Quando você vem de hospital, aprende que não existe procedimento sem avaliação, protocolo e acompanhamento. Na estética, isso ganhou outra camada: traduzir ciência para que a paciente entenda o que é e o por quê está fazendo".
Moda autoral: identidade, personalização e gestão em um setor volátil
O mercado brasileiro de moda autoral enfrenta instabilidade, com marcas que surgem fortes nas redes sociais e sucumbem a ciclos de crise.
Patrícia Granha, do Atelier Jardim Secreto, em duas décadas passou por diferentes fases — do auge das multimarcas à ascensão do digital — com o modelo sob medida. O setor de roupas personalizadas deve crescer 9,56% até 2033, impulsionado por personalização e sustentabilidade. "A cliente quer um vestido com a história dela, que respeita o corpo e o estilo e participa do processo. Isso exige gestão de agenda, equipe e custos", afirma.
A comunicação e a gestão de marca se tornaram gargalos críticos. A estrategista digital Beatriz Illipronti, do Moda Comunica, cresceu nessa fragilidade. "A moda, por muito tempo, negligenciou números, processos e posicionamento. Hoje, as marcas sobrevivem ao tratar comunicação e gestão da mesma forma que a coleção", diz.
Pilates e saúde integrativa: mercado global em expansão
O pilates se consolidou na economia do bem-estar, com projeções de crescimento anual de 11,43% no mercado global até 2031. A fisioterapeuta Luciana Geraissate atua na intersecção entre pilates clínico, biomecânica e longevidade. Seu trabalho acompanha a tendência de um público que procura por processos contínuos.
"O paciente que chega hoje não procura só alongamento ou ‘aula diferente’. Ele quer reduzir dor, corrigir padrão de movimento e conseguir fazer suas atividades do dia a dia. Isso exige método, avaliação e acompanhamento próximo", conta.
Na gestão em saúde, a terapeuta ocupacional Gabriela Vizioli desenvolveu um método próprio de administração de clínicas com foco em prática baseada em evidências, experiência do paciente e indicadores financeiros.
"A clínica que não olha para indicadores vive apagando incêndios. Quando processo, equipe e finanças conversam, quem ganha é o paciente e o negócio", afirma ela.
Setor farmacêutico: nichos de alto valor e profissionais experientes
O setor de higiene, perfumaria, cosméticos e medicamentos de nicho tem se beneficiado da expansão do consumo e da busca por soluções personalizadas. No Brasil, o avanço da manipulação, ativos específicos e formulações sob medida acompanha o crescimento da classe média e o envelhecimento da população, que impulsionam a demanda por produtos sofisticados.
A história de Fabíola Faleiros, da La Pharma, mostra como estabilidade profissional e qualificação técnica funcionam como alavancas para romper ciclos pessoais de instabilidade econômica.
Networking qualificado: rede como apoio de crescimento
Nos últimos anos, grupos de negócios formados por mulheres têm se consolidado como espaços de troca de informação, indicação de serviços, parcerias comerciais e fortalecimento de reputação em um networking estruturado.
Boa parte das profissionais citadas integra redes desse tipo. O Entre Confreiras, grupo liderado por Cíntia Almeida, reúne empresárias, executivas e especialistas em um hub com encontros recorrentes, indicação cruzada de serviços e construção de autoridade conjunta.
Para Camaratta, isso reduz um dos principais gargalos da trajetória feminina: a assimetria de informação. "Quando essas mulheres sentam juntas, trocam fornecedor, advogado, contador, especialista em gestão e economizam anos de tentativa e erro, que impacta diretamente na curva de aprendizado e no resultado financeiro", avalia.
Projeções de consultorias como a PwC indicam que negócios liderados por mulheres crescerão até 20% mais rápido até 2030 em segmentos de serviços especializados, consumo premium e saúde integrativa, consolidando a presença feminina como componente central da dinâmica econômica brasileira.


