Mais de 57 milhões de brasileiros vão cancelar idas ao show de Zezé Di Camargo?
Zezé Di Camargo, ou Zezé esta amargo?
A polêmica envolvendo o SBT ao convidar o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes para participações em sua programação expôs mais do que divergências políticas. Revelou uma perigosa confusão entre opinião pessoal democracia e mercado cultural. O convite é importante lembrar não foi seletivo nem ideológico. Diversos representantes da direita também foram chamados em uma tentativa clara de pluralidade algo básico em qualquer veículo de comunicação que se proponha nacional.
Ao classificar essa postura como prostituição Zezé Di Camargo ultrapassa o campo da crítica e entra no terreno do desrespeito. A emissora não se vendeu. Exerceu o direito e o dever de ouvir diferentes correntes de pensamento. Discordar é legítimo. Desqualificar a existência do outro no espaço público não.
Diante disso surge uma pergunta inevitável. Ao pedir o cancelamento de um especial por discordância política Zezé também estaria disposto a abrir mão do público que pensa diferente dele. Os 57.675.427 brasileiros que votaram em Lula deixariam então de ser consumidores de seus produtos de comprar ingressos para seus shows ou de ouvir suas músicas. Ou a intolerância vale apenas quando o palco é político mas não quando se trata de faturamento.
A arte a música e a comunicação sempre sobreviveram da diversidade. Transformar diferenças políticas em critério de exclusão é flertar com um tipo de censura que historicamente nunca terminou bem. O Brasil é plural contraditório e diverso e qualquer artista que dialogue com o país real precisa aceitar essa realidade.
No fim o episódio não enfraquece o SBT que cumpriu seu papel democrático. Expõe isso sim o risco de parte da elite artística confundir liberdade de expressão com o direito de silenciar quem pensa diferente. Democracia não é ouvir apenas quem concorda conosco. É conviver mesmo quando incomoda.


