Laudos não seguram gatilhos e arma transforma descontrole em morte

Laudos não seguram gatilhos e arma transforma descontrole em morte

A arma envolvida em mais um caso de violência não era particular. Era uma arma pública, pertencente à Prefeitura de Maringá, entregue ao agente para o exercício de uma função que, em tese, existe para proteger vidas. Esse dado torna o episódio ainda mais grave e exige uma reflexão que não pode mais ser adiada.

Costuma-se justificar a presença de guardas armados com o argumento de que armas salvam vidas. Mas a pergunta essencial permanece sem resposta objetiva. Quantas vidas, de fato, foram salvas pela atuação armada da Guarda Municipal? Não há dados públicos consolidados que sustentem essa narrativa. Em contrapartida, há fatos concretos, e eles são conhecidos da sociedade por meio de repetidas notícias na imprensa.

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No caso de Maringá, pelo menos uma vida foi tirada. A de uma mulher inocente, morta por um agente da Guarda Civil Municipal em um episódio de descontrole pessoal. Mesmo fora do horário de serviço, o agente utilizou uma arma da própria corporação, um instrumento custeado com recursos públicos, para cometer um homicídio. Isso não é um detalhe secundário. É o centro do problema.

Gerson Rafael Geidelis, agente concursado desde 2009, possuía laudo psicológico válido e não estava em serviço no momento do crime. Ainda assim, teve acesso à arma institucional e a utilizou para matar a ex-namorada. O caso desmonta, mais uma vez, a ideia de que avaliações psicológicas e protocolos administrativos são suficientes para impedir tragédias.

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A Prefeitura de Maringá repudiou o crime, afirmou não tolerar qualquer forma de violência, especialmente contra mulheres, e garantiu rigor nas medidas administrativas, além de colaboração com as autoridades. A posição institucional é necessária, mas não encerra o debate. O problema é mais profundo e estrutural.

Casos como esse não são inéditos. Ao longo dos últimos anos, reportagens em diferentes estados brasileiros mostraram situações em que policiais ou agentes de segurança utilizaram armas de serviço ou de posse funcional contra pessoas da própria família. Em muitos desses episódios, os envolvidos também tinham histórico funcional regular, exames psicológicos em dia e não estavam em serviço no momento dos crimes. Ainda assim, o acesso facilitado à arma transformou conflitos familiares em mortes.

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Esses registros revelam um padrão preocupante. A arma, quando presente em ambientes de tensão emocional, não atua como instrumento de defesa. Atua como meio de ataque. Ela não resolve crises pessoais, não controla impulsos e não protege vítimas dentro de relações marcadas por violência doméstica. Ao contrário, torna irreversível aquilo que poderia ter outro desfecho.

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Quando o Estado coloca uma arma na mão de um agente, assume também a responsabilidade pelos riscos que isso gera fora e dentro do serviço. Enquanto não há números claros e transparentes sobre vidas salvas pela guarda armada, existe ao menos uma estatística incontestável. Uma vida foi perdida, de forma brutal, por um descontrole individual potencializado pelo acesso a uma arma pública. Isso, por si só, já deveria ser suficiente para questionar o modelo, os critérios e os limites do armamento institucional.

Redação O Diário de Maringá

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