A polícia é armada em todo o mundo? O mito das armas e a realidade da segurança
Infelizmente, grande parte do debate sobre segurança pública no Brasil é marcada por respostas apressadas. Muitas pessoas defendem posições antes mesmo de ler a matéria ou compreender o problema em profundidade. Agem pela emoção ou pela ideologia, não pelo raciocínio. O resultado não é a solução da violência, mas a criação de novos problemas que se acumulam.
Esse cenário se agrava quando autoridades públicas demonstram mais preocupação em agradar o eleitor do que em adotar medidas eficazes. A soma desses fatores explica por que o Brasil segue preso a um modelo de segurança que não entrega resultados. Discursa-se muito e resolve-se pouco.
Não é verdade que a polícia seja armada em todo o mundo. Em vários países desenvolvidos, a polícia atua sem portar armas letais no dia a dia. No Reino Unido, por exemplo, a maioria dos policiais não carrega armas de fogo. O mesmo ocorre na Noruega, na Islândia, na Irlanda, na Nova Zelândia e em grande parte do Japão. Nesses países, armas letais ficam restritas a unidades especializadas, acionadas apenas em situações extremas.
O dado que costuma ser ignorado no debate brasileiro é simples e incômodo. Esses países, onde a polícia não anda armada rotineiramente, apresentam alguns dos menores índices de homicídio do mundo. A violência letal é exceção, não regra.
Laudos não seguram gatilhos e arma transforma descontrole em morte
O contraste com o Brasil é evidente. Aqui, a polícia é amplamente armada e atua em um ambiente com enorme circulação de armas ilegais. O país registra um dos maiores números de homicídios do planeta. A letalidade policial é alta, os confrontos são frequentes e a arma, que deveria ser o último recurso, muitas vezes se torna a resposta imediata.
Nos Estados Unidos, a lógica é semelhante, embora o contexto seja diferente. A polícia é armada porque a população civil tem amplo acesso legal a armas de fogo. O resultado é um país que também convive com índices elevados de homicídios quando comparado a nações onde o acesso às armas é restrito. Mortes em abordagens policiais, massacres e violência cotidiana fazem parte da rotina americana, algo inexistente em países onde há menos armas em circulação.
Ainda assim, há quem insista que dar armas ao cidadão aumenta a segurança. A realidade mostra o oposto. Quanto mais armas existem na sociedade, maiores são os índices de homicídios, acidentes e mortes evitáveis. Armas não previnem conflitos. Elas ampliam sua letalidade.
O combate ao crime não passa pela banalização da força, mas pelo fortalecimento do Estado. Um Estado focado em inteligência, investigação, prevenção, políticas sociais e controle rigoroso do uso da força. Armas letais devem ser usadas apenas quando não houver qualquer outra forma de resolver o conflito.
Enquanto o Brasil insistir em soluções fáceis, guiadas por conveniência eleitoral e discursos simplistas, continuará repetindo os erros que já se mostraram ineficazes. Segurança pública exige seriedade, evidências e coragem política para contrariar narrativas populares, mas equivocadas.


