O problema não é a Havaianas, é a intolerância defendida pelo subtenente Dioney, da Junta Militar de Maringá?
Quando o discurso perde o foco e mistura temas distintos, o debate público também perde clareza e responsabilidade.
O discurso da liberdade de opinião costuma soar bonito quando serve para atacar o outro. O problema surge quando essa mesma liberdade passa a ser seletiva, condicionada ao gosto político ou ao nível de concordância com a própria bolha. É exatamente essa contradição que se repete nas manifestações do subtenente Dioney.
Não é a primeira vez. Em publicações anteriores, Dioney já distorceu informações sobre temas sensíveis, como o auxílio-reclusão, alimentando desinformação e preconceitos. Agora, volta a chamar atenção ao afirmar que respeita opiniões, mas anuncia boicote à Havaianas simplesmente porque uma campanha publicitária, protagonizada por Fernanda Torres, defendeu a ideia de entrar em 2026 com os dois pés. A mensagem é uma metáfora clara de união, equilíbrio e coletividade.
O problema não está em gostar ou não de uma marca. O problema está na incoerência. Quem diz respeitar opiniões, mas reage com boicote ideológico a uma mensagem que não contém ofensa, mentira ou ataque, não está defendendo liberdade. Está defendendo intolerância travestida de princípio.
No vídeo divulgado, a contradição fica evidente. A fala começa com a defesa abstrata do direito de pensar diferente e termina com a punição simbólica a quem ousa expressar uma visão que não agrada. Isso não é liberdade de expressão. É tentativa de silenciamento por meio de constrangimento público.
A situação se torna ainda mais grave pelo cargo que Dioney ocupa. Como responsável pela Junta do Serviço Militar de Maringá, espera-se postura institucional, equilíbrio e compromisso com valores republicanos. O Estado não pode ser confundido com militância pessoal, nem cargos públicos podem servir de palanque para a promoção da intolerância, ainda que de forma indireta ou sob o rótulo de opinião.
Opiniões são livres. Discordâncias também. O que não é aceitável é transformar divergência em patrulhamento ideológico, boicotes morais e a construção de inimigos imaginários. A democracia não exige concordância. Exige maturidade para conviver com o diferente.
Entrar em 2026 com os dois pés, como sugeriu a campanha, não deveria ofender ninguém. Ofensivo, isso sim, é usar o discurso da liberdade apenas quando ele serve para calar o outro. Resta a pergunta inevitável. O subtenente Dioney não se sente constrangido ao apoiar um boicote contra uma empresa com mais de 60 anos de história, que emprega milhares de pessoas e mantém diversos projetos sociais? Pelo visto, não. A impressão que fica é que o interesse não está no debate de ideias, mas em ganhar visibilidade, alimentar conflitos e, supostamente, capitalizar politicamente esse barulho de olho em futuras eleições.



