Trocar Havaianas por ferraduras seria mais coerente?
Há quem diga que vai boicotar a Havaianas porque um comercial ousou dizer o óbvio: é preciso entrar em 2026 com os dois pés. Juntos. Não é um manifesto partidário, não é uma cartilha ideológica, não é um ataque a ninguém. É uma metáfora simples, quase infantil, sobre convivência e futuro. Mesmo assim, uma meia dúzia resolveu espumar.
Se a ideia é “protestar” contra uma sandália por sugerir união, talvez a coerência peça outra coisa no pé: ferradura. Combina mais com quem anda para trás enquanto grita “liberdade” para frente.
O roteiro é velho. Os mesmos que defendem a liberdade de expressão como mantra absoluto se sentem ofendidos quando a expressão não ecoa exatamente o que eles pensam. A liberdade, para esse grupo, funciona como um interruptor seletivo: liga quando convém, desliga quando incomoda. Se a mensagem não é um espelho, vira “provocação”. Se pede convivência, vira “ameaça”. Se convida ao diálogo, vira “agenda”.
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Boicotar uma marca porque ela sugeriu estar junto diz mais sobre o boicotador do que sobre a empresa. Revela fragilidade diante do plural, alergia à ideia de compartilhar o mesmo chão. O incômodo não é com a sandália; é com o fato de que o país não cabe numa bolha.
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E há uma ironia deliciosa nisso tudo. Quem acusa a Havaianas de “politizar” um comercial faz política ao tentar impor silêncio. Quem clama por mercado livre tenta punir o mercado quando ele não se ajoelha. Quem exalta a liberdade tenta cancelá-la na primeira esquina.
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Entrar com os dois pés em 2026 não é concordar com tudo, nem pensar igual, nem marchar em fila. É aceitar que conviver é mais maduro do que boicotar, que ouvir é mais forte do que berrar, que andar junto é mais inteligente do que tropeçar na própria intolerância.
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Se a mensagem incomoda, talvez não seja propaganda demais. Talvez seja realidade demais


