A perigosa dependência do Brasil da China

A perigosa dependência do Brasil da China

O ufanismo marcou o clima entre os governos do Brasil e da China na comemoração, em agosto, dos 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países. Os números mostram um crescimento exponencial no comércio bilateral, mas há outros fatores que precisam ser considerados. O principal deles, e o mais preocupante, é a dependência da China em vários setores estratégicos. Como ensinam experientes homens do campo, não se deve carregar todos os ovos numa mesma cesta.
Durante esses quase 30 anos como deputado federal, sempre tive uma forte atuação na Comissão de Relações Exteriores e Segurança Nacional, além de outras incursões internacionais presidindo por 4 anos o Parlamento das Américas (com sede no Canadá) e o grupo parlamentar Brasil-Estados Unidos. O crescimento do volume de negócios entre o Brasil e a China não ocorre por acaso, mas é decorrente do alinhamento ideológico que coincide com a chegada do presidente Lula ao Palácio do Planalto.
Logo na primeira visita de Lula a Pequim, em 2004, foi criada a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN). E cinco anos depois, em 2009, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. Conforme dados oficiais, no ano passado o comércio bilateral atingiu um recorde de US$ 157 bilhões. As exportações brasileiras para a China somaram US$ 104 bilhões, superando o total das vendas para os Estados Unidos e União Europeia.
Para que o Brasil tivesse maior equilíbrio, segurança e independência, o ideal seria que o nosso comércio exterior (assim como era no passado) tivesse como destino, de forma mais ou menos equilibrada, a Europa, Estados Unidos (Canadá e México), a Ásia (incluindo China, Japão e outros países daquela região), a Argentina e demais vizinhos da América do Sul. É razoável afirmar que hoje o agronegócio brasileiro se preocupa muito mais com as decisões de Pequim do que de Brasília. Não é para menos, de 2004 para 2023, as exportações agropecuárias para a China passaram de quase US$ 3 bilhões para US$ 60 bilhões. No referido período, a participação chinesa nas vendas do agro cresceu de 8% para 36%, enquanto as exportações para a União Europeia caíram de 33% para 13% do total.

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Em apenas 16 anos (2007 a 2023) os chineses investiram no Brasil US$ 73,3 bilhões em 264 projetos, principalmente nas áreas de eletricidade, extração de petróleo e infraestrutura. As gigantes State Grid, Energy China e CTG (Companhia Três Gargantas) querem dominar o setor de energia. Mais de 70 mil carros chineses estão estocadas nos portos brasileiros – aumento de 625% em relação a 2023. Essa importação desenfreada tem causado dificuldades logísticas e afetado diversos setores da economia.
Por que essa invasão chinesa em setores estratégicos é preocupante para o Brasil? Primeiro, porque as empresas brasileiras não se desenvolvem, ficam estagnadas e obsoletas; segundo, porque o Brasil se torna refém do ambicioso projeto chinês de influenciar e dominar o mundo. A China, de um lado, pratica o pior do capitalismo selvagem, e de outro, tem um governo comunista centralizador que ignora a soberania e a democracia de outros países. São práticas que misturam os interesses do governo e das empresas que quebram qualquer regra ou ética de mercado contra as quais alguns países estão se rebelando.
Enquanto a China comunista invade o Brasil (e muitos outros países) de forma estratégica e calculada, os nossos governantes brincam de fazer parceria ideológica sem ter a exata noção do entreguismo perigoso e do ferimento da soberania nacional. Além disso, o Brasil nos governos de Lula tem sido cooptado pela China nos Bricks (aliás, coincidentemente, Dilma Rousseff é a presidente do banco dos Bricks), no G-20 e nas votações combinadas nas Nações Unidas. Contrariando o histórico da nossa conceituada diplomacia, erroneamente o governo petista faz vistas grossas às violações e as fraudes eleitorais na Venezuela, não condena a Rússia pela invasão da Ucrânia e relativizou o terrorismo contra Israel que matou mais de 1.200 civis, incluindo bebês, crianças, mulheres e idosos. E isso é inaceitável!

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Luiz Carlos Hauly, deputado federal e ex-presidente do Parlamento das Américas (com sede no Canadá)

Redação O Diário de Maringá

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