Discurso de ‘Bandido Bom é Bandido Morto’ mostra ineficácia no combate à violência no Brasil

Discurso de ‘Bandido Bom é Bandido Morto’ mostra ineficácia no combate à violência no Brasil

É necessário mudar a legislação e investir em mais presídios e inteligência para combater o crime organizado

A função do policial é essencial em nossa sociedade, mas ela só existe porque há leis que regulamentam a profissão e estabelecem suas responsabilidades e limitações. Todas as forças de segurança atuam com base em normas que visam proteger e garantir a ordem de forma justa e imparcial.

É verdade que precisamos de mais segurança, mas isso não significa que o policial deva agir como justiceiro. A ideia de que “bandido bom é bandido morto” não trouxe os resultados esperados para o nosso país. Em vez disso, políticas baseadas nessa premissa acabaram incentivando a posse de armas pela população, o que resultou em mais violência e menos segurança.

O Atlas da Violência 2024, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que o Brasil pode ter deixado de registrar 24,1 mil homicídios entre 2019 e 2022. Isso representa 11,3% do total de homicídios estimados no país no período. Em 2019, no segundo ano do mandato de Jair Bolsonaro, o país atingiu pela primeira vez o patamar de 31,6 homicídios por 100 mil habitantes.

De acordo com o Atlas, a taxa de homicídios de negros no país (29,7) é quase três vezes maior que a de não negros (10,8). Embora tenha havido uma redução na taxa de homicídios em geral e de feminicídios entre 2017 e 2022, houve um aumento alarmante na violência contra a população LGBTQIA+, com registros de violência contra homossexuais e bissexuais subindo 39,4% e contra travestis e transexuais aumentando 34,4% em 2022. Esse foi também um ano marcado pelo massacre de jovens na periferia, onde 62 jovens foram mortos por dia, em sua maioria por armas de fogo.

Os pesquisadores analisaram ainda 131.562 casos de mortes violentas por causas indeterminadas entre 2012 e 2022, estimando que 51.726 dessas mortes são “homicídios ocultos” – provavelmente assassinatos que, por não serem registrados como tal, não entram nas estatísticas. Esses homicídios ocultos cresceram nos últimos anos, refletindo problemas na análise e na verificação de dados por autoridades estaduais e pelo Ministério da Saúde.

A taxa de homicídios registrada em 2022 foi de 21,7 por 100 mil habitantes, mas, ao incluir os assassinatos ocultos, sobe para 24,5. Apesar de uma queda de 24,9% na taxa de homicídios registrados entre 2012 e 2022, a redução é menor ao considerar os dados estimados.

O conceito de “anos de vida perdidos”, usado pelo Ipea, demonstra o impacto da violência no país. Entre 2012 e 2022, os homicídios de jovens brasileiros resultaram em uma perda de 15,2 milhões de anos potenciais de vida.

Dessa forma, ao observarmos as políticas de segurança e suas consequências, fica claro que a abordagem que favorece o uso de armas e a retórica de violência não só não reduziu a criminalidade, mas também intensificou o impacto social da violência. É necessário fortalecer o respeito às leis e implementar políticas públicas de segurança que promovam uma sociedade mais pacífica e justa para todos.

O discurso de que é preciso construir mais escolas do que presídios também não é suficiente; é necessário ter ambos à disposição. Escolas para educar e formar cidadãos, mas também presídios para aqueles que não respeitam as leis e cometem crimes.

Redação O Diário de Maringá

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