Descontrole das taxas de açúcar pode levar a retinopatia diabética
A preocupação com o diabetes e suas consequências é um assunto que não perde a relevância. O Brasil é o 5º país com incidência da doença no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos). Segundo estimam dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), 21,5 milhões de pessoas desenvolverão a patologia até 2030. Várias complicações podem advir da falta de controle do açúcar no sangue e uma delas é exatamente a retinopatia diabética, doença que afeta os pequenos vasos da retina – a região do olho responsável pela formação das imagens enviadas ao cérebro – que pode levar à baixa visão ou cegueira. “A conscientização da população em relação à prevenção e diagnóstico precoce é essencial. Apenas assim conseguiremos tratar de uma maneira adequada e, desta maneira, diminuir a cegueira pelo diabetes”, afirma o oftalmologista Renato Braz Dias, médico referência em Retina e Vítreo no Hospital de Olhos INOB, empresa do Grupo Opty no Distrito Federal.
Retinopatia Diabética é uma complicação do diabetes, caracterizada pelo nível alto de açúcar no sangue, que provoca lesões definitivas nas paredes dos vasos que nutrem a retina. Em consequência, ocorre vazamento de líquido e sangue no interior do olho, desfocando a visão. “Com o tempo, a doença se agrava e os vasos podem se romper, caracterizando a hemorragia vítrea podendo levar ao descolamento da retina”, diz o Dr. Renato. O médico explica que o diabetes também pode causar o surgimento de vasos sanguíneos anormais na íris, ocasionando o glaucoma. “O problema é que não se percebe perda de visão nas fases iniciais da retinopatia diabética e as pessoas procuram atendimento médico quando a retinopatia já está avançada”, observa o oftalmologista. Nesses casos, a perda de visão e distorção de imagem são os principais sintomas. Uma vez instaladas, as alterações retinianas não se modificam significativamente com a normalização da glicemia, necessitando de tratamento oftalmológico específico.
De acordo com a publicação do Conselho Brasileiro de Oftalmologia As Condições de Saúde Ocular no Brasil (2019), cerca de 2% das pessoas ficam cegas e 10% terão perda visual grave por causa do diabetes. Conforme explica o Dr. Renato, a retinopatia diabética apresenta comportamento mais agressivo e mais frequente, com risco de perda da visão, nos pacientes insulinodependentes (Diabetes tipo 1). Mas vale reforçar que o controle rigoroso do Diabetes Mellitus, caracterizado pela deficiência da insulina, retarda o aparecimento e reduz a progressão da doença. “A melhor maneira de prevenir a retinopatia é o controle adequado da glicemia. Dessa maneira, controla-se a diabetes e a chance de apresentar complicações como a retinopatia é menor”, afirma o médico.
As alterações da visão são mais comuns em jovens, pois a incidência de diabetes do tipo 1 nessa população é mais frequente e a retinopatia pode aparecer mais cedo e causar perda de visão. No entanto, um recente estudo norte-americano, publicado no jornal Diabetes Care, apontou um aumento significativo de alterações na visão causadas por retinopatia diabética em jovens com diabetes tipo 2, aquele causado por fatores genéticos juntamente com maus hábitos de vida, como consumo exagerado de açúcar, gordura, sedentarismo, sobrepeso ou obesidade, que provocam defeitos na produção e na ação da insulina no corpo.
A doença pode ser diagnosticada na avaliação oftalmológica básica. Exames como o mapeamento de retina e exame do fundo de olho devem ser realizados para se detectar a retinopatia diabética. “É bastante frequente o oftalmologista fazer o diagnóstico de diabetes através do exame de fundo de olho. As hemorragias observadas na retina são características do diabetes”, explica o médico. Os exames oftalmológicos devem ser realizados anualmente em pessoas com ou sem diabetes. Já os pacientes que apresentam algum grau de retinopatia devem ser examinados com mais frequência. Em casos mais avançados, recomenda-se fazer exame a cada três meses.
Em casos leves a moderados, a base é o tratamento antiangiogênico- com a aplicação de medicação para diminuir a permeabilidade dos vasos, além de inibir o crescimento de novos vasos retinianos anormais – eventualmente associado à fotocoagulação da retina com laser. Nos casos mais graves, a vitrectomia deve ser realizada para a retirada do sangramento e/ou colocação da retina na posição correta. “Existe muita pesquisa na área de diabetes, pois o número de pessoas com esta doença aumenta a cada ano. O controle do diabetes é fundamental para impedir o aparecimento e a progressão da retinopatia”, reforça o Dr. Renato Braz Dias.