Perguntas incômodas? Políticos resolvem com um simples clique

Não causa surpresa a operários do jornalismo, aqueles personagens em extinção que correm atrás da notícia feito perdigueiros, buscando o contraditório nas declarações oficiais, que político se incomoda com a verdade. Não se sentem a vontade com perguntas inconvenientes e menos ainda com comentários que expõem a fragilidade de suas ações.
Outrora, quando o jornalista enfrentava políticos de bloco na mão, microfone ou gravador, em entrevistas confusas, desorganizadas e tensas, o confronto era inevitável e a resposta, ou não vinha, ou era dada enviesada, em tom agressivo.
Lamentável, porém, é quando estreantes na política, que o desejo popular associa a inovação, se comportam como velhas raposas. Um desses neófitos, cuja preocupação maior é com o figurino e o visual, sempre arrumado num fundamento e outro do design pessoal, reage com desproporção à crítica miúda.
Como agora basta um click para sumir com a pergunta ou comentário, o dublê de político, a quem não se deve ser dado o desconto da falta de familiaridade com os protocolos do cargo, pois já caminha nessa seara há algum tempo e até já aprendeu a cuspir no prato que comeu, não se faz de vexado: crava um excluir na mensagem com desfaçatez de velhaco.
Pior: ainda pode se sentir perseguido e invocar a lei do stalking, de 2021, que pune eventuais excessos, pelo menos na interpretação de quem se julga farejado. Na prática, a margem de cobrar dos ‘representantes do povo’ que atuem com um mínimo de convergência com o interesse popular esbarra na soberba de cargos transitórios e, mais importante, datados!