O Refis do Carro de Luxo: Giselli Bianchini que comprou veículo de quase R$ 200 mil agora corre para anistiar multas de seus próprios impostos em atraso?
Maringá assiste a mais um capítulo do eterno conflito entre o discurso político e a conduta pessoal. A vereadora Giselli Bianchini, em uma cruzada midiática, defende com fervor a aprovação de um novo Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para o município. A medida, ela argumenta em seus vídeos, é essencial para socorrer o contribuinte “indiciado” e em real dificuldade, clamando pelo apoio popular para que o projeto saia do papel e traga alívio financeiro à cidade.
A proposta de um Refis, em essência, é louvável. É um mecanismo legítimo que injeta fôlego na arrecadação municipal ao mesmo tempo que oferece uma tábua de salvação a quem, por infortúnios, se endividou com o fisco. Mas a questão não reside na legalidade do instrumento, e sim na moralidade de seu proponente.
É aí que o debate se torna ácido e a crítica, necessária. Conforme amplamente noticiado, a própria vereadora, seu marido e a empresa que representam mantêm um passivo fiscal significativo com o município. Estamos falando de dívidas que incluem parcelas de impostos essenciais, como o ISS e taxas mobiliárias, que já teriam sido renegociadas e, ainda assim, não foram quitadas. Paralelamente, em um flagrante descompasso com a suposta dificuldade que o Refis visa remediar, a parlamentar aparece nas com um carro de luxo, avaliado em cerca de R$ 200 mil.
Essa contradição explode no colo da opinião pública. A urgência em aprovar uma facilidade fiscal, quando a própria defensora é uma notória devedora dos cofres públicos, lança uma sombra de oportunismo político sobre a proposta. O eleitor não consegue dissociar a iniciativa da conveniência pessoal, e a pergunta é inevitável: o Refis é uma política pública para a coletividade ou uma solução sob medida para o problema fiscal da vereadora?
No exercício do mandato, a ética exige coerência. Quem se senta na cadeira para fiscalizar o dinheiro do povo deve, no mínimo, ser o primeiro a honrar suas próprias obrigações com a cidade. Ao fazer o contrário, a parlamentar esvazia seu discurso, transformando o apelo em favor do contribuinte em uma peça de autodefesa. Não se trata de imputar um crime, pois o Refis é legal, mas sim de apontar uma flagrante quebra de decoro moral e uma inversão de valores que ofende o cidadão comum, que batalha diariamente para pagar seus impostos sem precisar de programas de perdão fiscal.
A força que a vereadora Giselli Bianchini busca para aprovar sua proposta deve ser direcionada, primeiramente, para a regularização de seus próprios débitos. O legislador precisa mostrar que está a serviço da lei e da cidade, e não se valendo do cargo para costurar benefícios que lhe são particularmente interessantes. Maringá merece um debate sobre Refis, mas com a transparência e a moralidade que a pauta exige, e não sob a suspeita de que a urgência é, no fim, um interesse pessoal disfarçado de causa pública.


