Startup de Maringá cria plataforma para compensar pegada de carbono
Criada em 2022, a Jiantan, startup de Maringá, desenvolveu um modelo de negócio pensado para contribuir com a diminuição da pegada de carbono, permitindo às empresas pagarem para compensar as emissões geradas por seus produtos e serviços. A empresa é apoiada pelo Governo do Paraná, por meio do programa Anjo Inovador, da Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital (SEI).
A sociedade da startup é composta pelo engenheiro agrônomo João Berdu, o web designer Stanley Raphael e o economista Marcelo Farid. Juntos, eles criam uma plataforma virtual em que empresas podem pagar para compensar a pegada de carbono adquirindo Bônus de Remoção de Carbono (BRC) provenientes do serviço ambiental prestado por agricultores cujas propriedades possuem áreas de mata nativa.
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Segundo Berdu, CEO da startup, o serviço oferecido é importante para empresas que desejem demonstrar o engajamento com causas sustentáveis e para os produtores rurais, que conseguem uma renda extra por terem uma área de preservação em sua propriedade, obrigatória de acordo com leis ambientais.
“O BRC é uma ferramenta que permite aos gestores compensar a pegada de carbono de produtos ou serviços de modo a atender as demandas de sustentabilidade e de agregar valor ao produto de forma objetiva, acessível e transparente”, destaca Berdu.
COMO FUNCIONA - De maneira prática, uma empresa interessada paga para a Jiantan pelo Bônus de Remoção de Carbono, e a startup repassa esse valor para o produtor rural dono de uma área de preservação de mata nativa. Desde o início das operações, em 2023, já foram pagos mais de R$ 65 mil para os agricultores cadastrados na plataforma e até o fim de 2024 já está garantido o pagamento de mais R$ 40 mil.
O CEO ainda explica que a compensação de carbono é uma tendência de mercado, sendo aplicada em empresas de grande porte. “Recentemente a Microsoft adquiriu no Brasil o serviço de remoção de carbono, no valor de US$ 100 milhões, de uma empresa de reflorestamento na Amazônia. Atualmente a Jintan é a única empresa no Brasil que já está remunerando produtores rurais pelo serviço ambiental de remoção de carbono prestado por suas áreas de mata nativa”, acrescentou o CEO.
Além de fazer parte da Incubadora Tecnológica de Maringá, a startup foi uma das 68 empresas selecionadas no primeiro edital do Paraná Anjo Inovador dentro da temática de sustentabilidade. O aporte financeiro disponibilizado pelo programa do Estado a auxiliará a desenvolver novas soluções tecnológicas para melhorar o atendimento a empresas e agricultores cadastrados na plataforma.
“O Anjo Inovador nos permitiu contratar pessoal para o desenvolvimento de uma inteligência artificial para a análise da integridade da preservação e para incrementar o relacionamento com os produtores e empresas”, conta Berdu.
NA PRÁTICA - O primeiro passo do trabalho da Jiantan acontece quando uma empresa entra em contato com o interesse de criar soluções para a compensação de emissões de CO2 geradas por seus serviços e produtos. A partir disso, é necessário providenciar um inventário que calcule a pegada de carbono deixada anteriormente. Com base nesses dados, é possível mensurar o custo para fazer a compensação necessária.
A compensação ocorre a partir da compra do BRC, oferecido por produtores rurais que possuem área de mata nativa preservada. Para isso, o produtor pode se inscrever gratuitamente na plataforma virtual da startup, onde ele adiciona o recibo de inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
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Com base em dados de georreferenciamento existentes no CAR, a startup localiza a propriedade, identifica e avalia a integridade da preservação das áreas de mata nativa utilizando critérios estabelecidos pelo Instituto Água e Terra (IAT). Dessa forma, quantifica o volume de carbono que a área de preservação removeu da atmosfera nos últimos 12 meses.
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Segundo dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), uma mata nativa com preservação do Bioma Mata Atlântica, por exemplo, retira 9 toneladas de carbono por hectare em 12 meses. Ou seja, cada hectare de mata nativa preservada gera nove BRCs por ano.
A startup conta com duas modalidades de repasse de valores para os produtores rurais. A primeira é a modalidade Mercado, onde o produtor fica com 30% da receita bruta na venda do bônus, a Jiantan fica com outros 30% e, dos 40% restantes, parte é reservada para o pagamento de impostos, custos de venda, além da destinação de 10% a um sindicato rural parceiro indicado pelo produtor. Já na modalidade Integração, o produtor rural pode ficar com até 70% do valor obtido com a venda do bônus.
A startup também disponibiliza um certificado de remoção de carbono para as empresas que utilizam o serviço. Nele, consta um QR Code que leva a uma imagem da localização exata da mata nativa da qual foi retirado o bônus. A ideia é que as empresas apresentem esse certificado nos produtos e materiais promocionais.
Um exemplo do trabalho da startup é a parceria com a empresa Sancor Seguros, em 2023, na qual foram adquiridas 4 mil toneladas em BRC. A iniciativa teve como objetivo demonstrar o empenho da seguradora com o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente.
Segundo o CEO da Sancor Seguros, Edward Lange, a empresa sempre esteve atenta às questões relacionadas aos impactos das mudanças climáticas no meio ambiente. “Em 2023 buscamos nos alinhar ao slogan ‘Segurando um Brasil Mais Sustentável’, então a proposta de valor da Jiantan foi um match instantâneo. Sendo assim, a Sancor fez uma compra antecipada de 4 mil toneladas de CO2 para acelerar as necessidades da startup.”
Além do serviço oferecido às empresas, a Jiantan disponibiliza de forma gratuita em seu site uma calculadora que ajuda pessoas a mensurarem a pegada de carbono de atividades diárias como dirigir, mas também com base em hábitos alimentares e de consumo.
ANJO INOVADOR – O Paraná Anjo Inovador é o maior programa de incentivo financeiro público a startups do Brasil. A SEI lançou em maio deste ano o segundo edital do programa. As inscrições já foram encerradas e as propostas enviadas estão em análise. Serão escolhidos até 80 projetos de inovação para receber o aporte de até R$ 250 mil para desenvolvimento de novas soluções. Neste segundo edital serão destinados R$ 20 milhões em subsídio. Os recursos serão destinados a projetos com os seguintes temas: Cidades Inteligentes; Esportes; Inovação Social; Educação Inclusiva; Apoio à Inovação para Micro e Pequenas Empresas; Combate às Mudanças Climáticas; Segurança Alimentar; e Agricultura Sustentável.